quinta-feira, 19 de novembro de 2009





Por que sei que estou no deserto?
Pelo excesso de areia em meus olhos,
Em minhas mãos.
Pela secura da garganta misturada a grãos de silício...

Por que sei que estou no deserto?
Pela dor que sinto quando acordo
Depois da noite mal dormida.
Pela dor constante que sinto,
Na boca do estômago.
Pela dor insistente e latejante,
Em meu coração.

Por que sei que estou no deserto?
Por causa do excesso de luz durante o dia,
Que cega.
Por causa da falta de lua a noite,
Que cega.
Por causa da falta de perspectiva e horizonte,
Que cega.

Por que sei que estou no deserto?
Porque sei que não adianta acreditar em nada,
Porque simplesmente não acredito em nada.
Não acredito nas artes,
Não acredito nas ciências,
Não acredito em nenhuma religião;
Em nenhum santo,
Em nenhum buda,
Em nenhum cristo,
Em nenhum homem,
Simplesmente porque sei que não adianta acreditar em nada,
Pois a morte me espera.
E o mistério de escapar dela
Não me foi revelado por ninguém
E pior: não me foi revelado por mim mesma
Por isso, sei que estou no deserto,
E se continuar assim não escaparei...
Como ninguém, igual a mim, até hoje, escapou!
Não me venham com caminhos toltecas,
Com histórias de phistis e de sophias,
De kardeques desencarnados,
De teosóficos blavastiquis,
Ou antroposteiner... de nada adiantarão,
pois todo dia quando acordo:
sempre sou e sempre é hoje.
Por isso, sei que estou no deserto...
E não há nada a mim revelado que possa
Aplacar a minha dor e a minha estonteante sensação
de que sou um super-herói e que irei salvar o universo.

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